SMAM – Semana Mundial do Aleitamento Materno


Na semana que ontem começou comemora-se a Semana Mundial do Aleitamento Materno.
Como em tantas outras efemérides, precisamos de criar semanas específicas para que assuntos tão importantes quanto actuais venham a público e sejam discutidos largamente pela sociedade.
A amamentação é um desses casos…

Quando em 1990 a Unicef e a Oms subscreveram a “decaração de Innocenti”, a amamentação estava já seriamente comprometida como causa directa dos estilos de vida das populações dos países industrializados, da forte presença das mulheres no mercado de trabalho e dos interesses económicos aliados às empresas de alimentação infantil.
Infelizmente, creio que os problemas “modernos” relacionados com a amamentação estão demasiado ligados a estes interesses económicos, muito mais do que às dificuldades que as mulheres sentem em prolongar a amamentação quando recomeçam a trabalhar depois de terem os seus filhos…

O leite artificial está hoje amplamente difundido e universalmente aceite, além de que pode ser comprado em qualquer supermercado sem qualquer tipo de acompanhamento técnico.
Um erro gravíssimo, quanto a mim.
Além disso, todos sabemos da forte pressão que a publicidade massiva das empresas tipo Nestlé e companhia exerce sobre a opinião publica, com a sua panóplia de alimentos prontos a ingerir desde uma tenra idade – nada mais apelativo para uma mãe moderna e trabalhadora, e gravemente disfarçado com a impunidade de publicitarem alimentos saudáveis, que na verdade não o são.
Por outro lado, sei bem que a muitas das mulheres grávidas não é passada suficiente informação e de qualidade acerca dos benefícios e necessidade da amamentação como sendo o melhor para um recém-nascido. Também não se fala aprofundadamente dos problemas normais que surgem com a amamentação e da melhor forma para os ultrapassar.
Insiste-se na verdade de que a amamentação traz largos benefícios para o bom desenvolvimento emocional dos bebés, mas esquece-se muitas vezes o mais importante: não há alimento melhor para um bebé até aos 6 meses de vida do que o leite da sua mãe. Não há suplemento nem fórmula enriquecida que se compare, nem de longe, às vantagens nutricionais e imunológicas da amamentação.

Por outro lado, também a complicar o sucesso da amamentação, temos os “mitos” modernos a ela associados: que amamentar dói, que transforma a mulher num mero objecto veículo de alimento, que tira o desejo sexual, que inibe a participação do pai na vida do recém-nascido e compromete o seu relacionamento coma mulher, que amamentar é animalesco, que amamentar ou dar leite de fórmula é exactamente o mesmo, entre tantos outros disparates que por incrível que pareça, são mais observados em estratos sócio-económicos elevados.
Também assistimos com muita frequência a mulheres muito tristes e desgostosas por não terem prolongado a amamentação além dos 3 meses, porque o “leite era fraco”, porque “o leite não prestava”, ou porque “o bebé não gostava do meu leite”.
O mais incrível é quando são os próprios profissionais de saúde que incutem estas percepções nas mulheres, muitas delas altamente motivadas para amamentar a longo prazo, mas sem qualquer acompanhamento eficaz à mínima dificuldade. É mais fácil recomendar suplemento, do que perceber o que está a interferir no processo de amamentação daquela dupla mãe/bebé…

Felizmente que também há excepções, e um pouco por todo o mundo há diversas ONG´s a promover o aleitamento materno e a prestar apoio e informação a qualquer pessoa que o solicite:
Em Portugal – SOS Amamentação, La leche League e Leite Materno.Org

No Mundo: La Leche League International, Aleitamento Materno, Baby Milk Action, Word Alliance for Breastfeeding Action, entre tantas outras.

Espero que a semana me permita mais um post sobre o tema, para desenvolver algumas ideias importantes…

A amamentação é um direito de todas as crianças e mulheres, e é nosso dever enquanto sociedade zelar pelo seu apoio e promoção a todos os níveis.

22 Comments

  1. nao amamentei os meus filhos. nao amamentei porque nao pude. os meus mamilos sao vaginais e tentei de tudo. durante as primeiras semanas dava leite ao bebe de seringa para nao se habituar a tetina do biberon e eventualmente pegar no peito, mas tudo em vao. depois de algumas semanas de bomba, muitas noites mal dormidas e um bebe a perder peso passeio ao leite artificial sem remorsos. na segunda vez nem tentei e tive mais tranquilidade e seguranca em mim. cada caso e um caso e acho que toda as pre-mamas deverao estar informadas e escolher de consciencia.

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  2. Adoro esta foto, que já conhecia e que só me lembra de mim e da minha mãe. Estou aqui a comentar como filha/bebé. Poucas serão as pessoas que se lembram de mamar. Eu mamei até aos dois anos de idade e não tenho recordação mais remota e agradável que a do colinho da minha mãe e do sabor do leite dela. Costumo dizer que somos mamíferos, eu e ela, e que a suguei até ao tutano, porque hoje sou tão grande e ela pequenina.
    Sei que há mulheres para quem é desagradável amamentar os seus filhos e que isso não é sinal de desamor ou negligência. Jamais as condenaria. Mas sinto que o facto de a minha mãe me ter amamentado até “tão tarde” criou um laço físico e emocional entre nós fortíssimo. E a memória disso faz-nos muito felizes.

    Beijinhos, querida Rita. Admiro-te tanto.

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  3. Com prazer ou sem prazer, com alimento ou necessitando complemento, amamentar é sobretudo um gesto de amor, de dádiva, que a Cláudia veio confirmar, exactamente por não gostar de o fazer.
    Eu amamentei os meus enquanto pude (6-9 meses), com dificuldades de consiliação laboral, e orgulho-me de cada mamada dada a dormitar no sofá.

    Lindas!

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  4. Cláudia,
    Não tens nada que te desculpar pela rudeza das palavras (e eu não senti qualquer rudeza nelas!) nem por não seguir a tónica dominante nos comentários.
    Gosto que este seja um espaço de partilha de opiniões divergentes mas respeitosas como foi o caso :)
    E é sempre bom perceber outros pontos de vista, precisamente porque não somos todos iguais, e porque tb concordo que há alguma pressão nas mulheres para serem “mães perfeitas”.
    Mas estamos totalmente de acordo: eu peso mais as vantagens físicas e imunológicas da amamentação, do que as vantagens emocionais.
    Não que não as considere (as emocionais) importantes, antes pelo contrário. Mas porque são precisamente tão diferentes de pessoa para pessoa, e uma mãe que amamenta contra a sua vontade ou com desconforto nunca vai usufruir destes momentos da mesma forma que uma mulher que tem gosto em amamentar. E em consequência, como bem dizes, as crianças tb acabam por sentir este desconforto.
    Mas mesmo assim decidiste amamentar 4 meses! E isso quanto a mim é que é importante. Na balança pesou mais o factor “saúde do recém-nascido”.

    Acho que este tipo de campanhas de promoção da amamentação são importantes para que mais pessoas tomem opções devidamente fundamentadas e informadas, e para que quem queira optar por uma amamentação prolongada possa usufruir em pleno desse direito.

    Obrigada pelo teu testemunho, e por todos os outros que aqui deixaram!

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  5. Sinto-me frustrada! Quero ser mãe e tenho vindo a adiar porque, como trabalho a recibos verdes, não tenho licença de parto, e, como me dão, por simpatia, apenas um mês depois do parto, penso como vou amamentar o meu bebé e que não o quero deixar com apenas um mês (nem sei onde!), mas também não posso deixar de trabalhar (por razões óbvias) e não aguento adiar mais, porque quero mesmo ter filhos (de preferância ants dos 40).
    Beijinhos do norte!

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  6. Lamento não vir seguir a tónica das opiniões aqui deixadas mas, para bem das muitas pré-mamãs que por aí andam a ler blogs, acho que tenho que deixar o meu testemunho.
    Não gostei de amamentar. Não julgo que seja animalesco, não tive dores terríveis, felizmente nenhuma mastite. Apenas não gostei. Fi-lo por “obrigação”, porque sei que é importante, porque sempre me informei o suficiente para perceber ser muito benéfico para a saúd da criança.
    Fui acompanhada por uma pediatra que, neste ponto, soube perceber as minhas razões e dar atenção à mãe e não apenas à criança, o que, por muitos profissionais, é pura e simplesmente esquecido. Quer se queira quer não, se a mãe estiver infeliz a criança senti-lo-á e não faz sentido inflingir sacrifícios demasiados à primeira, que se reflectem sobre a segunda. E sem culpas, que não fazem qualquer sentido.
    Amamentei, pois, pela minha filha e apenas por ela. O mínimo que considerei indispensável, isto é, os 4 meses da licença de parto. Devo dizer que a A. é uma criança saudável, sempre o foi.
    Voltarei a amamentar caso venha a ter mais filhos. Possivelmente não virei a gostar. Mas fá-lo-ei. As vezes que forem necessárias.
    Julgo, por isso, que não é absolutamente indispensável ver na amamentação um acto quase-sagrado para se perceber os seus benefícios. Se se gostar, se mãe e bebé puderem tirar prazer disso, tanto melhor. Mas, se assim não for, é puramente uma questão de inteligência ou de ponderação das vantagens.
    Não gostei de amamentar tanto como não gostei de estar grávida. Foram processos necessários, apenas. Peso embora tudo isso, não me sinto nem nunca senti pior mãe que as demais. Porque o amor não se mede por aí.
    Em resumo, tudo visto e considerado, as campanhas em defesa da amamentação deveriam centralizar esforços na divulgação dos benefícios da amamentação para a saúde da criança, em lugar de insistirem em questões que são, apesar de tudo, acessórias pelo menos para algumas mulheres. Naturalmente que faz sentido existir divulgaçao – muita divulgação, muito esclarecimento -, naturalmente que faz sentido que da parte dos empregadores deverá haver concessão de tempo para uma amamentação durante um tempo razoável, naturalmente que faz sentido travar a publicidade enganosa sobre os produtos para bebés e crianças – julgo que, no essencial, não estamos, por isso, em desacordo.
    Desculpem a rudeza das palavras. Tenho consciência de que soam frias. Mas não pude deixar de as dizer, talvez por ter consciência de não o serem. E sobretudo porque tive por diversas vezes de acalmar as ânsias de outras mamãs minhas amigas que em completo sofrimento durante o processo choravam a culpa de afinal não estarem a tirar qualquer prazer do acto.
    Há que ter cuidado em não inflingir culpas. Há que ter cuidado em não normalizar, como se fossemos todos iguais e todos reagíssimos da mesma forma. Pelas mamãs, mas pelos bebés também.

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  7. O V. tem 16 meses e ainda é amamentado ao deitar e ao levantar. As pessoas já me começam a olhar com estranheza quando digo que ainda o amamento. Muitas vezes ainda tenho que ouvir a lengalenga do costume: “isso é vicio, olha que depois não te larga….”. Fico muito desgotosa ao ouvir isto. A verdade é que ele gosta, eu também, ele alimenta-se e para mim continua a ser muito mais prático.
    Bonito post!

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  8. infelizmente poderia escrever um livro do tamanho da enciclopédia so com o que eu pude ouvir enquanto amamentei quer seja em Portugal ou ca em França onde vivo…também quem me mandou amamentar o meu filho durante 3 anos ;-)))))

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  9. Sabem, nunca me ocorreu não amamentar os meus filhos. No entanto, quando o mais velho tinha um mês, perdeu quase um quilo e foi para o hospital de urgência. Só a experiência de um médico mais velho evitou que ficasse internado. Era fome. E eu tinha imenso leite, e ele mamava imenso… E lá começámos com o aleitamento misto, para grande tristeza minha, mas não há duvida que recuperou rápidamente o peso e ganhou muita vivacidade.
    Cada caso é um caso. Mas concordo que muitas mães não amamentam porque não se dão ao trabalho de lutar pelos seus direitos. Tenho a experiência de amigas minhas que com muita firmeza e calma, de modo fundamentado e natural, apresentaram à entidade empregadora aquilo que eram, de facto, os seus direitos, e que foram as primeiras a usufruir nas respectivas empresas de redução de horário de trabalho para amamentar.
    Uma houve que foi a primeira a ter a possibilidade de trabalhar 3 dias por semana em horário alargado, ficando os outros dois dias em casa, porque soube que a empresa o fazia noutros países da Europa. Claro que lhe deu trabalho, fez pesquisa, falou com as colegas que também tinham optado por essa possibilidade, e arriscou levar com um não. Mas lutou e conseguiu aquilo que ela acreditava que naquele momento era o melhor para ela e para a sua família.

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  10. Olá, eu gosto sempre de ler o que a Rita escreve…Em relação à amamentação eu gostei imenso, apesar de no primeiro mês parecerem agulhas a espetarem-me no peito, mas como sempre tive IMENSO leite até parecer uma vaquinha leiteira, insisti sempre e depois realmente foi uma maravilha…a minha filha é super saudável e realmente os efeitos secundários que os leites artificiais costumam dar, ela nunca teve nenhum…no materno costumavam dizer que se via logo que ela era bébé de leite materno…o q era óptimo de ouvir…e sp que posso digo a amigas minhas para darem porque vale a pena!!

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  11. Olá, obrigada pelo post.
    Tive duas experiências distintas em relação à amamentação e gostava de as partilhar.
    Desde que comecei a pensar ter filhos, sempre quis amamentar. Porém, ao fim de 15 dias de vida do meu primeiro filho a pediatra aconselhou-me a interromper temporariamente a amamentação( o t. estava ictérico e tinha baixo peso o que ela relacionava com o meu leite). Começou assim a saga do aleitamento misto.
    Porém, e porque desde o início fui aconselhada a usar protectores de mamilo, o t. nunca tirou grande prazer dos momentos em que mamava, estando sempre ansioso pela chegada do biberão… e eu cada vez mais triste. Parou de mamar aos 4 meses.
    Depois, nasceu o meu segundo filho e eu estava decida a tentar novamente. Desta vez, mais segura e contra as vozes do costume, de que o leite é fraco (isto vindo de mulheres para quem a amametação se afigura como um retrocesso nos seus direitos adquiridos). O v. mamou em exclusividade até aos 6 meses e depois até aos 11. Sim foi difícil, tive duas mastites, mas o prazer que ambos tirávamos da amamentação foi incomparável.
    Quanto aos ganhos para a saúde dos bébés: o v. ainda hoje tem um sistema imunitário muito mais forte do que o do seu irmão…
    Desculpem o testamento, mas os mitos sobre a amamentação que ainda persistem junto da sociedade portuguesa, e muitas vezes junto da comunidade médica, deixam-me perplexa…

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  12. eu dei de mamar até aos 27 meses… e voltei ao trabalho quando a c. tinha 6. não foi fácil, sobretudo porque tive de fazer valer os meus direitos com muita luta… mas a verdade é que a legislação portuguesa protege as mães, sobretudo se estiverem a amamentar. durante o primeiro ano de vida da criança TODAS as mães têm direito a redução no horário de trabalho, e essa redução mantém-se durante todo o tempo que durar a amamentação; as mães estão protegidas no despedimento e têm direito a 30 dias de faltas para assistência à família.
    quantas mães sabem disto, e quantas se dão ao trabalho de lutar para que estes direitos sejam garantidos?
    quantas se dirigem aos sindicatos e à comissão para a igualdade quando são pressionadas a abdicar dos benefícios e até da amamentação, ou quando são despedidas pelo simples facto de terem filhos?
    não podemos passar a vida a queixar-nos da ignorância alheia e de quem a fomenta. é possível trabalhar e amamentar (no meu caso NUNCA tive de recorrer a uma colher de leite artificial). mas deixa de o ser se as mães preferirem a inércia e o medo a fazerem valer os seus direitos.

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  13. Esta fotografia, que como amiga e família já conhecia, é linda e simboliza muito bem aquilo que é importante mamar é bom e amamentar também! Gostei muito de te ler! Um abraço!

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  14. Também acho que deveria haver mais informação disponível, apesar de eu achar que já é muito boa, se formos ao sítio certo. Mas as mães também têm de ter alguma iniciativa para se quererem informar mais. Já ouvi algumas futuras mães dizerem «as aulas de preparação para o parto são uma perda de tempo, todas têm os fihos na mesma» e depois?! Esquecem-se que o dia do nascimento é só o primeiro e apartir daí seguem-se os outros e não têm preparação ou uma ideia muito vaga sobre a amametação. Custa-me ouvir «não tinha leite quando ele nasceu» ou «era muito pouco, uma aguadilha» e com a ajuda de um enfermeiro enfiam no primeiro dia de vida um biberão ao bebé. Para ajudar, estes ainda dizem a algumas mães «’tá a ver, ele chorava porque era fome».

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  15. Adorei ler o que escreveu. Muito oportuno para mim. Obrigada pelas indicações foram muito úteis. De facto não é fácil amamentar durante muito tempo. Obrigada

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  16. Sim, a photo está linda… fico sempre um pouco chocada com as barbaridades que ainda se ouvem sobre amamentação – e infelizmente AINDA é precisa a semana da amamentação!
    Mas quem sabe um dia????

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  17. excellent post Rita…I know that that there is a movement in “traditional” hospitals by nurses to promote nursing. Education really is the key.

    …and you both are so beautiful in the picture :)*

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