epitáfio

Esta é a minha bisavó. Chama-se Ângela e morreu faz hoje 2 anos.

Se devo a alguém a minha habilidade manual é a ela, que me ensinou tudo aquilo que sei, e que me permite trabalhar naquilo que gosto.
Era uma mulher extraordinária, muito inteligente e à frente do seu tempo.
Desde pequena que era modista/costureira/bordadeira e os seus talentos nunca passaram despercebidos: começou a trabalhar como aprendiz numa célebre casa de enxovais, fez vestidos de noiva para outra conhecida casa lisboeta, era formadora da Singer e ensinava a sua arte a outras raparigas. Toda a vida viveu da costura e da sua criatividade.
Fez roupa para os filhos, para os netos e para a bisneta que costumava passar as férias grandes com ela – eu.
Nunca me pressionou para aprender nenhuma das suas artes, antes pelo contrário. O que me ensinou foi com grande insistência minha, sempre com muitas brigas e zangas da minha parte, que sempre fui teimosa e insistia em fazer à primeira qualquer trabalho, e me sentia frustrada de não conseguir…
A mãe dela, minha trisavó que morreu pouco depois de eu nascer, era uma hábil artesã de patchwork, que costumava usar nas suas colchas os restos da costura da filha.
Nunca pensei em dedicar-me ao que faço hoje com muito gosto e sentido de realização. Mas a aprovação da minha bisavó foi essencial para me dar força e coragem de me aventurar por novos caminhos.
Pouco antes de morrer, já muito debilitada, disse-me que gostava muito daquilo que eu fazia, e incentivou-me a continuar.
Teve 2 filhos, 4 netos, 6 bisnetos e 4 trisnetos e morreu com 90 anos bem vividos.
Lembro-me dela todos os dias, lembro-me com muita nostalgia da minha infância passada ao pé dela, e posso afirmar com toda a convicção que eu não seria a mesma pessoa se não tivesse privado de perto com ela.

Hoje, apesar de tudo, é um dia triste… A vida é feita de encontros, mas também de despedidas.

15 Comments

  1. Que bonito o teu texto. Tambémtive uma relação muito querida com o meu avô paterno. Devomuito daquilo que sei a ele e também o recordo todos os dias :) Um xi-coração!

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  2. Que linda a tua bisavó Angela!
    E essas memórias doces que ficaram contigo valem para sempre! E cada vez que trabalhas entre linhas e costura podes sentir mais um bocadinho dela ;)
    Um abraço,
    Patrícia

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  3. Que mulher tão bonita! E o teu bisavô também tem muito charme – estive a espreitar a foto do casamento. És uma lucky one teres conhecido a tua bisavó (e ainda nova) e tão especial. As mulheres fazem história na tua família, não é?

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  4. Que lindo post Rita.

    A melhor homenagem que podes fazer à tua querida “bisa”, é continuares a arte que ele te transmitiu, como tens feito tão bem.
    Beijinho :)

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  5. Que bisavó tão especial… há medida que o tempo passa, a saudade aumenta, não é?
    E teres conhecido a tua trisavó é fantástico, e eu que para saber o nome das minhas, tive que começar a fazer a minha genealogia ;) Sortuda!!!

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  6. que bonito. e que linda que ela era rita.
    a minha mãe encaixa na perfeição nessa descrição modista/costureira/bordadeira. mas nunca se pode dedicar a tempo inteiro. há alguns anos teve uma loja, em que vendia roupa e fazia arranjos. mas por nao ter mto apoio e porque o negócio não a cativou.. deixou. hoje-em-dia trabalha num hospital e todos a querem bem. desde pequena que sei fazer malha? tricotar? mas só há pouco tempo me lembrei de pegar nas agulhas de novo. sei bem o orgulho que tens na tua linda trisavó :)
    aqui em berlim sinto mtas saudades da minha mãe..

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  7. e como diz o poeta, “só Deus tem os que mais gosta”. Mas é bom ter essas memórias. Eu não sei o nome da minha trisavó… Nesta familia morre-se cedo; ou tem-se pressa para começar tudo de novo… :-)

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