“O” Congresso

É difícil descrever o que se passou em três dias de Congresso. Emoções que foram da expectativa à frustração, do empenhamento à desilusão, da energia ao cansaço, pautaram os meus(nossos) dias.
Um acontecimento como este II Congresso Internacional pelo Parto Humanizado é sempre um ponto alto para todos os apaixonados e embrenhados neste tema, como é o meu caso.
Seja pela questão do convívio entre “pares” que muitas das vezes só se vêm uma vez por ano, seja o facto de termos a oportunidade de conhecer pessoas interessantíssimas com vastos anos de experiência na matéria, seja por tudo aquilo que aprendemos. Sempre. Porque estamos sempre a aprender.

Saí com várias convicções reforçadas:
– Esta vai ser (está a ser) uma “luta” difícil e lenta.
Mas pela qual vale a pena lutar, pela qual é imperativo haver alguém que queira lutar.

– Esta é uma causa muito importante, importante demais para ser esquecida ou menosprezada. É mais uma das muitas situações que mostram o mal que 40 anos de ditadura fizeram ao nosso país. Nós estamos neste momento, em relação às políticas de atendimento e protocolos relacionados com o parto, onde estavam países como a Inglaterra, a Holanda ou a Alemanha há 20 anos atrás.

– Esta é uma causa que precisa de começar a ser discutida de forma séria e empenhada, em termos políticos e jurídicos, porque só assim será possível mudar os protocolos existentes.

– Esta é uma questão de poder: poder dos médicos em relação à/os enfermeira/os parteira/os, poder dos enfermeiros em relação aos outros activistas do atendimento ao parto (como as doulas), onde se esquece frequentemente o actor principal: a mulher. Todos eles devem unir esforços, delinear em conjunto e convergir os vários saberes e técnicas, num sistema que seja respeitador das mulheres, porque todos os profissionais são importantes para um melhor atendimento à gravidez e ao parto.

– Esta é uma causa que TEM de começar a ser discutida pela opinião pública. É preciso explicar às mulheres o que é um parto normal, quais são os seus direitos, respeitá-las e dar-lhes opção de escolha, porque esta questão é uma questão de direitos das mulheres. Por outro lado, é importante que as outras pessoas (não as mulheres que vão parir) percebam o que está em causa, bem como as implicações profundas no bebé e na família ambos afectados com a maneira como se nasce.

Espero sinceramente que mais mulheres digam de sua justiça e falem da maneira como foram tratadas nos seus partos. É importante acabar com o silêncio desconfortável acerca do tema. É importante perceber na primeira pessoa, e não apenas através de estatísticas, qual é a realidade dos hospitais públicos e privados em Portugal.

É importante que uma mulher adulta e responsável seja respeitada nas suas escolhas para o seu parto, da mesma maneira que se respeita uma mulher que prefere fazer uma cesariana electiva.

Cabe-nos a todos nós fazer a diferença, seja a fazer uma verdadeira campanha de informação seja a denunciarmos as situações desrespeitantes dos direitos das mulheres que infelizmente acontecem diariamente em todos os hospitais do país.
E fazer uma pergunta que se faz há muito em surdina… e se fossem os homens a parir, seria diferente, aceitariam eles as mesmas faltas de respeito a que as mulheres se vêem sujeitas?…
A associação Espanhola El Parto Es Nuestro, fez essa pergunta no seguinte video publicitário. Vale a pena pensar no assunto…

5 Comments

  1. É sempre fantástico ler qs tuas prosas sobre este tema.

    Realmente não sei muito, o que posso dizer é que mais grave que a mulher não ser respeitada nas suas opção, é não as conhecer…

    Tenho constatado, com bastante tristeza e desilusão que a grande maioria das mulheres grávidas ou que pensam vir a ter filhos tem um pânico ENORME e uma repulsa profunda ao acto de parir…

    Quase todas afirmam que não imaginam um bebé, que tem aquela grande cabeça a passar através do seu órgão sexual.

    Todas dizem que vão ter crianças, SIM, mas de cesariana (afirmam-no mesmo antes de estarem grávidas).

    E quando eu questiono se não receiam que lhes cortem os músculos da barriga e passar por semanas de recuperação, sem sequer poder pegar no seu filho recém-nascido ao colo devido à dificuldade de se manter de pé; enfrentar um processo “operatório” com um recobro longo ao invés de seguir a via natural, cuja recuperação é bem mais rápida… A resposta geralmente é que a cesariana não dói, não “rasga” e é uma opção muito melhor…

    Desejo que um dia as minhas opções venham a ser respeitadas, mas acima de tudo desejo que as pessoas (porque não são só as parturientes, como também os pais dos bebés, as mães e pessoas mais próximas das grávidas) abram os olhos, estejam receptivas a novas informações, conhecimentos e não preconceitos distorcidos e manipulados por um qualquer interesse que não compreendo…

    E aí, SIM, escolham, independentemente da escolha, mas que escolham possuindo toda a informação ao seu alcance…

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  2. Fiquei triste com isto. Acho que ainda ando a digerir algumas coisas que se passaram no meu segundo parto. E já foi há quinze meses. Tenho esperança de que um dia tudo isto nos pareça uma aberração porque entretanto as coisas terão de mudar. Bem hajas por te preocupares.

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  3. É chocante. Tenho 3 filhos e nasceram os 3 na Alfredo da Costa. Nem vou maçar-te com descrições que já deves ter ouvido milhares de vezes, apenas digo que podia acrescentar mais alguns rápidos pormenores a este video. Esta realidade trás alguma tristeza, e por vezes até alguns traumas, a um momento que deveria ser tão único e privado (o mais possível, pelo menos).

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  4. Concordo contigo! É preciso dar a cara! Não tenham medo de contar o que se passa nos Hospitais, é uma vergonha!

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  5. eu não duvido que se fossem os homens seria diferente… não querendo ser sexista, eles nunca aceitariam aquilo a que uma mulher se sujeita quando vai ter um filho.
    adorei o filme, não conhecia…

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