artesanato não é entretém

Do blogue da Elisa – Design com Texto – onde hoje li um texto muito pertinente sobre artesanato, que subscrevo e apoio totalmente. Porque também eu gosto muito daquilo que faço, e considero que é uma sorte poder trabalhar e  ganhar o meu sustento a fazer aquilo que gosto, mas definitivamente não faço costura e patchwork para me “entreter”…

O ARTESANATO NÃO É UM “ENTRETÉM”

“Antes de explicar o que me levou a escrever este texto apresento-me. Chamo-me António Adauta, sou Artesão reconhecido, e desde há 19 anos que trabalho a tempo inteiro em Artesanato. Tive a ideia de adaptar os desenhos de mosaicos de Conímbriga para Quadros a ponto de Arraiolos. Utilizando materiais de reduzidas dimensões (linha de algodão e quadrilé) projectei e manufacturei, sempre com o Ponto de Arraiolos, Quadros que podem ser exibidos numa parede.

Actualmente ainda existe a ideia estereotipada de que o Artesanato é “produção” de pecinhas baratuchas e popularuchas que os habitantes do interior rural manufacturam, para ocupar as longas noites de Inverno, depois de um dia passado na lavoura, uma vez que não têm mais nada com que se entreter.Tal dedução vem a propósito de comentários que costumo ouvir nos locais onde exponho os meus Quadros, como por exemplo:

– Então… é com isto que o senhor se entretém?

– Não. Artesanato não é um entretenimento. Pelo contrário, é um emprego como outro qualquer, que me ocupa oito e mais horas por dia, demorando três semanas a manufacturar o Quadro mais pequeno, enquanto que o maior demora três meses. Estes Quadros requereram um trabalho minucioso de pesquisa. Só para elaborar os riscos e manufacturar os protótipos demorei três anos.

O artesanato não é um entretenimento. É a produção de peças de arte de baixo número de exemplares e até peças únicas, todas elas assinadas, responsabilizando-nos assim pela sua qualidade. É a verdadeira venda directa do produtor ao consumidor que realizamos, quer nas nossas oficinas, quer nas Feiras de Artesanato que fazemos por este País fora e às vezes, no estrangeiro.

O artesanato não é um entretenimento. É a manufactura de peças de arte por artífices segundo tradições que vêm da noite dos tempos. É a descoberta de artes e ofícios, com novos materiais, novas técnicas, outros design, que irão conquistar o seu espaço nos tempos futuros.

O artesanato não é um entretenimento. É o sábio aproveitamento dos recursos naturais utilizando matérias-primas que, ás vezes, acompanhamos desde a sua sementeira. É uma paixão, uma filosofia de vida, é a feitura de peças de arte com as nossas mãos, com métodos amigos do ambiente.

O artesanato não é um entretenimento. É uma actividade económica realizada por micro e pequenas empresas, principais catalisadoras da economia Portuguesa e mesmo Europeia.” [António Adauta]

11 Comments

  1. Artesanato é a arte de fazer com as mãos usando artefactos.
    Os Portugueses têm o hábito de desvalorizar o que advém da palavra “artesanato”, por há muito por cá e por isso entre nós está desvalorizado. Não o é assim Internacionalmente…
    Como tal, devemos procurar quem valorize, quem não o tenha e quem não o faça. São as leis da oferta e da procura. O Português residente em Portugal, na sua maioria, é o pior cliente do artesanato.

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  2. Gostaria de felicita-la pelos seus trabalhos fantásticos!
    De seguida, agradeço a divulgação do texto de António Adauto. Reflete exactamente a realidade do nosso quotidiano.
    Muitas vezes, não encontramos pessoas muito acessiveis e que por norma gostam de desvalorizar o trabalho e a dedicação que cada um de nós dedica às suas peças.
    Gostaria da sua autorização para postar este texto no meu blog, porque penso que estes sentimentos devem ser divulgados.

    Agradecendo desde já,
    1001 Cumprimentos

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  3. Belo texto! São palavras como estas que devem ser ditas, se calhar até várias vezes, para que a sociedade comece a dar valor a quem se dedica com amor a uma causa (neste caso, o artesanato).

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  4. Que confusão. Eu que “achava” que sabia o que era artesanato, depois de ler o texto fiquei sem saber distinguir um artesão de um artista ou de um designer (já agora sou designer e não me considero, nem de formação nem de vocação, artista ou artesã)

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  5. Eis uma boa definição do que é artesanato. Mas ainda me pergunto como se consegue sobreviver desta arte em Portugal?
    Os meus parabéns pelo novo visual. Mais sobrio, mais luminoso. A fotografia ganha um novo espaço:)

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  6. Adorei este post. Não poderia estar mais de acordo. Apesar de não ser eu própria uma artesã, considero de uma profunda injustiça o papel diminuto que a nossa sociedade reserva ao artesanato, dando depois um papel de destaque à indústria da qual resulta o produto mal acabado, de qualidade de duvidosa e com uma factura ambiental largamente superior, ainda que uns troquinhos mais barata ao nosso bolso.
    Obrigada por nos dares a conhecer este texto!

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  7. Subscrevo inteiramente as palavras do António Adauto. Artesanato para mim é sobretudo PAIXÃO!
    Bem Haja António Adauto por este texto e à Rita pela sua difusão!

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  8. Estou totalmente de acordo com as palavras do António Adauto. Costumo comentar com a Helena (minha filha) sobre o que chamo de “artesanato vapt-vupt”, feito de maneira rápida, com mal-acabamento, objetos feitos de qualquer maneira. Parabéns. Cecilia.

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