(re)nascimento

faz hoje dois meses que nasceu o meu bebé – a 13 de abril de 2014.
nasceu pouco passava do meio-dia, depois uma bela noite de lua cheia, tal como a que esteve na noite passada. ao contrário dos outros irmãos, o meu bebé nasceu em casa. na nossa casa, no nosso espaço, nos nossos braços.
a assinalar este nascimento, tão especial como são todos os nascimentos, retomo a escrita neste espaço, o que há tanto tempo não fazia. não que este tenha deixado de ser um espaço pessoal, longe disso. mas a (in)disponibilidade para escrever e a proliferação de tantos blogues neste espaço virtual fez-me abandonar a palavra de forma mais regular, e optar por usar imagens em vez de letras para comunicar com quem me lê/vê.
mas não podia deixar passar em branco o nascimento do meu ultimo filho e falar sobre um tema tão recorrente quanto polémico neste blogue – o parto.

17 anos depois de ter sido mãe pela primeira vez, tive a felicidade de ter o parto que sempre desejei – respeitado. um parto que respeitou a minha fisiologia, que respeitou a nossa vontade, que respeitou os tempos do meu corpo e do meu bebé.
ao contrário do que muita gente pensa acerca dos partos em casa, esta foi uma opção muito ponderada, muito pensada, muito planeada. não foi – nem podia ser – uma opção leviana, só “porque sim”, ou porque “é moda”.
e no nosso caso concreto, sei que foi a melhor opção que podíamos ter feito – por mim e pelo meu bebé…
o xavier esteve pélvico até poucas semanas antes de nascer. foi graças à minha maravilhosa parteira, que fez uma versão externa, que ele se posicionou da melhor maneira para nascer. se não fosse ela, provavelmente ele não teria dado a volta e teria ficado pélvico até ao dia no nascimento, inviabilizando um parto natural. no hospital, a probabilidade de nascer por cesariana seria de 99%…
o xavier nasceu 2 dias antes de ter completado 42 semanas de gestação. provavelmente, e tal como aconteceu nas minhas gravidezes anteriores, se tivesse sido seguida por um obstetra, no hospital, ele já teria dado “um empurrãozinho” ou “uma ajudinha”, porque afinal de contas, o “prazo” já tinha terminado, já havia contrações e era só uma questão de “ajudar” o bebé a vir cá para fora…
o xavier nasceu com 4800kg. provavelmente, num hospital, ter-me-iam dito que seria impossível parir um bebé tão grande sem graves consequências tanto para mim como para ele. teria sido indicada um cesariana, absolutamente desnecessária, com indicação de desproporção cefalo-pélvica.

os cenários que descrevo acima não são do domínio da ficção e muito menos da suposição ou probabilidade. são a realidade da esmagadora maioria dos hospitais e maternidades portuguesas. muitas mulheres grávidas sofrem pressões inimagináveis no momento das suas vidas em que deviam ser (ainda) mais apoiadas e acarinhadas. mesmo que não se apercebam, ou que se sintam muito bem com o acompanhamento que têm, a maioria das mulheres é levada a crer que não consegue, nem pode, parir sem intervenções. que não poderá fazê-lo fora do hospital e sem uma série de intervenções, “absolutamente necessárias” para garantir o seu bem estar e do feto.
não me vou alongar neste debate… já o fiz inúmeras vezes neste blogue, em conversas privadas e em aparições públicas. quem me conhece, sabe que sou uma activistas pelos direitos reprodutores, e que os temas da gravidez e parto me apaixonam de maneira especial.
em 10 anos de activismo já vi de tudo, e principalmente já vi as coisas mudarem em Portugal, ainda que a passos de bebé, ainda que com retrocessos frustrantes.
sei que este é um tema que inflama, ou é preto ou é branco, não há lugar a opiniões cinzentas. hoje não me interessa esgrimir factos e argumentos, já o fiz tantas e tantas vezes. não estou aqui para convencer ninguém, e muito menos para dizer que as mulheres que têm escolhas diferentes da minha (cesarianas, epidurais, etc…) são menos mulheres do que eu, ou que são piores mães.

hoje, acima de tudo, quero celebrar os dois meses de vida do meu filho.
e dizer que sim, é possível. é possível ter um bebé em casa, às 42 semanas, com 4800kg, sem colocar em risco o meu e o seu bem-estar.
e que a alegria de parir um filho assim, de forma livre, consciente e natural é incomensurável. é do tamanho do mundo e de uma felicidade extrema.
que todos os bebés têm o direito de nascer assim e que todas as mulheres têm o direito de passar por esta experiência.

hoje, com uma mão-cheia-de-filhos, sou uma pessoa completa, renascida e agradecida.
agradeço à minha família, que me apoiou incondicionalmente em todo o processo,
agradeço ao meu marido, que esteve sempre do meu lado,
agradeço à minha parteira, sem a qual nada disto teria sido possível,
agradeço aos meus filhos, pela alegria contagiante com que receberam o irmão recém-nascido.

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