48 foram os anos de ditadura em Portugal.
48 é nome do filme de Susana Sousa Dias que hoje apresentamos, em estreia nacional, no Cineclube de Santarém.
Sobre o filme, em si, enquanto objecto cinematográfico, há muito que se lhe diga. Quase que podia não ser um filme, uma vez que não há imagens em movimento.
Toda a narrativa é montada tendo como pano de fundo imagens de presos políticos, torturados da PIDE, onde a câmara apenas faz travellings subtis, como que a hipnotizar o espectador para fixar os olhos nos olhos das pessoas ali retratadas. Explica a realizadora: «Todas as fotografias têm uma história por detrás. O que me interessava era perceber o que a foto nos está a mostrar e o que nos está a esconder.»
E depois, claro, há o som. E é aqui que a aposta da realizadora ganha outra dimensão.
Com cada fotografia há uma voz, presente, actual, que nos relata o que vê. Como se as pessoas retratadas nas fotografias fossem elas mesmas espectadores do seu próprio passado.
É um filme que nos provoca sensações, que nos leva a reflectir com elas. Sentimos o desespero, sentimos a dor, sentimos a agonia, e acima de tudo, sentimos a brutalidade a que estiveram sujeitos os presos e torturados pela PIDE.
Nunca a vigilância inquisitorial e a brutalidade do Estado Novo foram tão expostos perante nós.
E por isso é que penso, sinceramente, que este é um filme obrigatório e mais do que necessário nos dias que correm.
Compreendo a desilusão que muitos sentem, 37 anos depois de Abril de 74, ao verem o país que temos.
Compreendo a falta de alento geral e esta depressão colectiva em que nos encontramos.
Compreendo a inércia a que tantos se renderam.
Mas não compreendo, e não compreenderei nunca, que se digam coisas como “foi para isto que se fez o 25 de abril?…”
Porque parece que as pessoas se esqueceram do mais fundamental: o golpe de estado de há 37 anos pôs fim a uma ditadura onde não havia liberdade.
O bem essencial e primordial: LIBERDADE.
Antes do dia 25 vivíamos num país onde podíamos ser presos, torturados, vilipendiados, numa ditadura que não deixava pensar de forma diferente.
Só por isso, valeu a pena fazer-se o 25 de Abril.
Se hoje não estamos contentes com o país onde vivemos, temos a nossa quota de responsabilidade.
Hoje temos a liberdade de poder sair à rua, temos a liberdade de nos manifestarmos, temos a liberdade de não fazer nada, temos a liberdade de aceitar as coisas, temos a liberdade de criticar o estado em que vivemos, temos a liberdade de votarmos em quem nós quisermos, temos a liberdade de viver as nossas vidas sem intervenção repressiva e violenta do estado.
E isso não tem preço.
Parece-me uma injustiça tremenda para todos aqueles cidadão e cidadãs anónimos, espancados, mortos e torturados, não estarmos agradecidos pelo fim da ditadura da repressão e do medo.
Celebrar Abril será sempre recordar e homenagear aqueles que resistiram, aqueles que disseram não, aqueles que pagaram com as suas vidas a liberdade que hoje temos.
Por isso a importância deste filme: para que não se apague a memória, para que se saiba que Portugal era um país de gente amordaçada.
Perdi esse filme, mesmo tendo ouvido falar muito dele.
Li este post com dois meses de atraso mas subscrevo-o inteiramente.
Ana Cristina
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Vi outro dia a apresentação e pareceu-me bem duro, daqueles que incomoda, gostava de ver.
Na segunda também saí à rua e fomos à Baixa, vimos o cortejo do 25 de Abril, mas achei poucas pessoas e muito pouco intusiasmo. Eu tinha 1 mês e um dia quando se deu o 25 de Abril mas ouvia as conversas dos adultos e sempre percebi o antes e o depois. Hoje a liberdade espalhou-se tanto que as pessoas baralham-se e até se esquecem que a nossa liberdade termina onde começa a do outro, ou isto será civismo?! A liberdade foi para todos mas cada vez está mais presente que o poder não é do povo! O povo anda ofuscado com o brilho do carro novo, da playstation que TEM de dar ao menino, ou do telemóvel 3G que tem que ter porque o vizinho também tem… e aquilo que é mesmo importante acaba esquecido, é pena. Um beijinho.
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Prezada Rita
Há muito que “entro” no seu blog. Acho-a inteligente e educada e, como tal, com um juízo crítico sobre a vida. Sou da geração de 60/70 e lutei para que os meus filhos soubessem o que é poder falar sem ser de “boca a ouvido”. Penso que estas gerações a seguir ao 25 de Abril não foram devidamente esclarecidas sobre o que estava em jogo. Estes filmes e depoiamentos dos resistentes/lutadores deviam ser passados nas escolas e MUITO bem explicados. Os jovens entenderiam que o importante não são os telemóveis, as play-stations e as farras de fim-de-semana mas, o poderem ter opiniões, estudar o que e até que desejem, viajar com um passaporte válido e não irem para uma guerra estúpida. Nem sempre foi assim e não é líquido que o seja para sempre.
Desejo-lhe as maiores felicidades e, carry on but not keep calm.
Maria Teresa
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assino por baixo! muito bem dito!
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Absolutamente de acordo!!!
Com o post da Rita e com o comentário da Méri!
Não há mais palavras!
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Muito bem dito, Rita!
Antes do 25 de Abril este filme e esta entrada seriam impensáveis!
Assim como tudo o que lemos a favor e contra tudo e todos. É isto a Liberdade. Poder dizer tudo o que pensamos, para o discutir livremente.
Fiquei “arrepiada”, revoltada e zangada pela decisão dos nossos deputados terem decidido não fazerem a sessão solene na Assembleia da República!
Bem-haja!
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