Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
(…)
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
(…)
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.
(…)
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.
(…)
Agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
José Carlos Ary dos Santos – As portas que Abril Abriu
E porque amanhã é Abril, e porque este país era o nosso há apenas 34 anos.
E porque não podemos esquecer, nem parar de lutar por uma sociedade mais justa, igualitária e livre.
E porque o 25 de Abril não pode ser só um feriado, aproveitado em jeito de férias.
E porque nos cabe a nós relembrar a quem quer esquecer, que a Liberdade que hoje temos foi paga com a vida de muitos outros, que lutaram na clandestinidade, que foram presos e torturados, que deram a vida.
Porque acreditavam que um dia seríamos livres.
Amanhã é dia de sair à rua e celebrar, sentir o cheiro dos cravos e cantar as cantigas esquecidas, porque a liberdade é um bem raro, que pomos em causa todos os dias.
Viva o 25 de Abril!
Cabe-nos a nós, estes que se emocionam, estes que vêem nos seus filhos a continuação, estes que lutam e lutarão por Abril diariamente, aplicando princípios e ideiais, passar a mensagem, ensinar, falar, falar e falar, para que Abril continue a ser A referência de vida, de liberdade, de justiça.
25 de Abril SEMPRE!
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Lindo post o teu este…
Viva a Liberdade! sempre…
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Que o 25 de Abril não seja só mais um feriado…
Que os seus ideais estejam presentes nos restantes dias do ano…
25 de Abril SEMPRE
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Faço minhas as tuas palavras sobre 25 de Abril!
25 de Abril Sempre!
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Sempre!
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:)
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