tudo começou assim:uma série de quadrados lisos em vários tons de verdes, roxos e castanhos, a acompanhar um tecidos de florinhas que comprei numa loja em Kathmandu.
estava em outubro de 2012, acabada de chegar da minha viagem pela India e Nepal, e era a primeira vez que cortava um dos muitos tecidos que trouxe comigo.
a própria paleta de cores, verdes e lilases/roxos/magentas, era uma das muitas que me tinham ficado na retina, e que tinha imortalizado com a máquina fotográfica, como esta paisagem do lago de Pokhara…
ou tantas outras imagens onde os verdes eram sarapintados pelas outras cores…
tive a oportunidade de a fotografar a loja de onde veio o tecido. era minúscula, com o teto muito baixo, mal cabiam 5 pessoas lá dentro, mas estava cheia de gente e de tecidos. fui olhada primeiro com desconfiança, porque não seria uma loja onde normalmente entrariam turistas, mas acabei por ser muito bem atendida pelo simpático dono, que ao lado também tinha uma oficina de máquinas de costura. perfeito *
voltando à manta, cortei alguns quadrados do tal tecido, que tinha algumas pequeninas imperfeições, como buraquinhos e falhas na impressão, ainda sem saber o que fazer com eles. juntei depois os tecidos sólidos que tinha disponíveis em casa, dentro do mesmo esquema de cores. foi a primeira vez que “voltei” ao trabalho depois da viajem e soube-me bem!
acabei por deixar os quadrados guardados numa caixa e passaram-se alguns meses até lhes voltar a tocar. entretanto, por entre outros trabalhos e outros usos que fui dando ao tecido de florinhas de Kathmandu, houve um dia que resolvi pegar nos quadrados e com eles fazer um patchwork. foi ainda na casa antiga, na parece de fundo em rosa-velho, que o fotografei pela primeira vez, para perceber o resultado final.
gostei. gostei dos contrastes, gostei dos pequenos erros e imperfeições, gostei de voltar a ver a palete de cores que me transportou até ao Nepal, e gostei acima de tudo de ver o tecido, o elemento especial desta composição, a servir de pano de fundo ao entrelaçado de cores.
voltei a guardá-lo no baú das peças por finalizar e já tinha prometido a mim mesma que seria uma das que teria de ficar terminada este ano. porque sim.
acabou por ser apenas este fim de semana.
o resultado final foi este…
pespontei na diagonal, com linha verde e bordeux, e bordei, de forma pueril e despreocupada, umas pequenas flores de inspiração indiana, em cada quadrado central do patchwork.
usei batting de algodão no enchimento e na parte de trás um tecido de voile de algodão, com uma estampagem exuberante e exótica, que comprei algures num mercado quinzenal aqui da terra. no debrum usei um tecido floral da Anna Maria Horner.
fotografei na parede branca cá de casa e comprei flores a condizer.
e fui, mais uma vez transportada para aquele país magnífico que é o Nepal, e àquela cidade maravilhosa, exuberante e caótica que é Kathmandu.
por isso, hoje, enquanto preparava esta fotografias, tomei uma decisão:
➳ vou colocar esta manta à venda e o dinheiro será entregue diretamente, por quem a comprar, à missão “Vamos ajudar o Nepal”, iniciada pelo Pedro Queirós e o Lourenço Santos, 2 portugueses que ficaram retidos no Nepal depois do devastador terramoto do passado dia 25 de abril, e decidiram ficar no terreno a ajudar quem mais precisa.
porquê contribuir para esta causa em particular e não outra, poderão vocês perguntar?… eu respondo: tenho seguido o diário neles no facebook e tenho ficado bastante impressionada com o que têm feito e conseguido. às vezes, estarmos livres de protocolos e burocracias inerentes a grandes organizações, acaba por facilitar a ajuda, falando em termos humanitários. além do mais, eles não andam a reconstruir infraestruturas, nem em hospitais de campanha a tratar feridos. estão simplesmente a levar comida e água a quem precisa. podem ler mais sobre eles, e o projeto que iniciaram, aqui ou aqui.
quem, como eu, conhecer minimamente o Nepal, saberá que os efeitos dos sismo vão muito para lá de praças, casas e monumentos destruídos. principalmente nas zonas rurais imediatamente à volta de Kathmandu haverá muita gente a passar fome e dificuldades por não ter uma estrada em condições de até lá transportar alimentos.
por outro lado, não deixo de pensar que o Pedro e o Lourenço estão a fazer aquilo que eu ou muitas outras pessoas que visitaram o Nepal fariam se tivessem sido colocadas na mesma situação. não sei se teria tido a coragem deles (sim!, é preciso coragem para ficar num país devastado, sem saber com o que contar a seguir, deixar a vida em stand-by, etc….). não sei se seria capaz de ficar por tempo indeterminado longe dos meus filhos.
mas sei que quero muito ajudar este país e as suas gentes, que tão bem me receberam numa fase tão importante da minha vida.
o que tenho é o meu trabalho, e por isso vos peço que me ajudem a ajudar!
Dou-lhe os parabéns pela magnífica peça que fez e pelo seu gesto tão generoso!
Se mais pessoas fossem assim, certamente que o mundo estaria melhor do que está…
GostarGostar