a Frida Kahlo tem feito parte dos meus trabalhos desde há muitos anos. confesso que às vezes tenho “mixed feelings” em relação ao tema… eu gosto efetivamente da Frida Kahlo. desde sempre.
gosto dos quadros dela, que tive a oportunidade de ver ao vivo numa exposição do CCB há cerca de 12 anos atrás quando foram mostrados ao público pela primeira vez em Portugal (lembram-se?…)
gosto das roupas dela, é claro, principalmente do statement que elas representam, nomeadamente numa época em que valorizar o artesanato e trajes tradicionais não estava definitivamente na moda.
gosto da forma assumidamente contra-corrente com que ela encarou a sua vida, a sua sexualidade e os relacionamentos entre as pessoas.
gosto do facto de ser uma mulher de convicções políticas fortes, principalmente pelo facto de se ter assumido sempre como comunista.
por isso dou por mim muitas vezes a pensar o que teria a Frida Kahlo a dizer se por algum momento nos visitasse hoje, aqui e agora, e se visse transformada em ícone pop… por um lado, acredito que não se importasse, por outro, não creio que visse com bons olhos o facto de se tornar num ícone de consumo.
será que a quantidade de pessoas que “adora” a Frida Kahlo sabe alguma coisa acerca dela, para além dos fatos folclóricos, flores na cabeça e buço proeminente?…
será que a maioria das miúdas que usam t-shirts de marcas mainstream com a cara dela estampada sabem mesmo quem ela foi, o que fez, o que pensava?…
infelizmente, duvido que assim seja.
daí as reticências que volta e meia me assaltam quando faço coleções subordinadas ao tema “Frida Kahlo”.
não creio que esteja a alimentar o mercado capitalista das marcas que se aproveitam de uma imagem que está na moda.
os meus meios de produção são eu e a minha máquina de costura, as minhas coleções reduzem-se a poucas unidades e cada peça é feita com respeito e genuína admiração pela pessoa, e não pelo símbolo pop.
dito isto, tenho de vos falar nos novos painéis da Alexander Henry dedicados à Frida Kahlo.
assim que os vi fiquei apaixonada: as cores, em dois tons distintos, são lindas, vibrantes e muito bem coordenadas, e todos os elementos dos painéis são escolhidos a dedo:
achei desde logo que seriam difíceis de trabalhar. uma coisa é termos um tecido, que cortamos como queremos e conjugamos à vontade, outra coisa é ter um painel, de dimensões consideráveis, onde todos os elementos se conjugam e não faz sentido cortar aos bocados.
levei alguns meses a olhar para eles e a juntar tecidos que me fizessem sentido. que pudessem ser uma continuação dos elementos e cores de cada painel, acrescentando alguma coisa única, que fosse minha e não comprometesse a estética original dos ditos.
acabei com uma combinação improvável que me agradou muito: dois tipos de tecidos completamente diferentes – o crepon (barkcloth) dos tecidos Outback Wife e o block print em algodão indiano da Merchant & Mills (disponível na Retrosaria).
são dois tecidos totalmente diferentes, um é grosso, texturado e encorpado, e o outro é fino e leve. um tem padrões florais e outro geométricos. juntos fizeram uma combinação improvável e harmoniosa…
as cores que escolhi embrenham-se no desenho do painel, e acabam a fazer parte dele, como se fossem um prolongamento. as flores e elementos gráficos e geométricos fundem-se e criam uma coisa nova – para mim essa é a melhor definição de patchwork <3
acho que lhes fiz a merecida justiça: aos painéis, que permiti brilhar e dei a minha contribuição criativa de forma a torná-los únicos, e à Frida, que continuo a respeitar e admirar desde o dia em que a descobri.
vejam na loja todas as fotos e escolham o vosso favorito: o painel em tons de azul que representa os elementos água e ar e o painel em tons de bege e castanho que representa os elementos terra e fogo: