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começa hoje a Fashion Revolution Week. o que é isso?… uma campanha para mudar consciências relativamente ao mundo da moda.
a industria da moda mundial é das atividades mais poluentes e geradoras de desigualdades sociais, ao mesmo tempo que providencia lucros gigantescos para as grandes empresas que controlam o mercado.
o preço das roupas, cada vez mais baixo, as modas em constante mudança e o apelo ao consumo geraram uma autêntica catástrofe ambiental e social.
qualquer um de nós, é certo, procura as melhores escolhas na altura de comprar o que quer que seja, e quanto mais barato, melhor. o problema é precisamente esse: quanto mais barato, pior…
pior é a qualidade da peça, pior será o salário que recebe quem a fez, pior será o impacto da sua fabricação para o ambiente, e menor será certamente a sua durabilidade.
é verdade que a maioria dos cidadãos, nomeadamente portugueses, têm salários baixos e assistiram nos últimos anos a um empobrecimento geral que lhes retirou poder de compra (quando não lhes retirou o trabalho e respetivo salário).
é certo que a maioria de nós não pode comprar uma camisola a 200€ ou um par de calças de ganga a 300€, mas há muito que podemos fazer para mudar o atual estado de coisas.
podemos começar por ter uma consciência crítica em relação àquilo que compramos: preciso mesmo desta peça?… vou usá-la o suficiente que justifique o dinheiro que custa?… por outro lado, é tão barata, como é que é possível?…
podemos também comprar menos peças, e assim podermos escolher aquilo que compramos, de forma consciente. (por exemplo, em vez de comprar 5 t-shirts a 5€, será que não vale mais a pena comprar uma boa t-shirt por 25€, com um bom algodão que me durará muito mais tempo que as outras 5?…)
podemos (e devemos) fazer a pergunta que importa nesta campanha que arranca hoje:
será que recebeu um salário justo?… terá o suficiente para viver?… terá contrato e condições de trabalho?… terá idade para trabalhar, ou devia estar na escola?… e a marca?.. será que tem consciência social?… que é transparente nas suas políticas?… que tem respeito pelo ambiente e pelas pessoas?… que prefere investir parte dos lucros em projetos sociais ou ambientais, em vez de pagar bónus milionários a CEO´s?…
sei bem do que falo.
vocês, que estão aí desse lado, sabem bem o que faço, conhecem o meu trabalho.
muitos talvez não saibam (porque às vezes me perguntam), mas faço tudo sozinha, não tenho nem ajudantes, nem patrões. tirando a saudosa aventura da Dressing Fairytales, em que contratei uma costureira para me ajudar em algumas coleções, é das minhas máquinas de costura e das minhas mãos que sai tudo aquilo que faço e que vocês compram. infelizmente não consigo saber da proveniência de algumas das minhas matérias primas, mas também sou muito criteriosa nos materiais que uso.
desde que comecei a marca ©ritacor que tenho ouvido de tudo: que as minhas almofadas, a uma média de 30€, são demasiado caras, que na loja X, por exemplo, há coisa parecidas a menos de metade do preço, que os sacos são demasiado caros, porque aquela loja de chineses tem coisa tão giras a 5€, que comprar uma manta de 200€ é uma loucura, quando posso ir à tal loja X e comprar uma manta quase tão bonita por apenas 50€…
(já) não faço roupas. quer dizer, faço-as para mim e para os meus, precisamente porque não há mercado para pagar o real valor de uma peça manufaturada. mas digo-vos que qualquer coisa, seja uma peça de roupa ou outro artigo têxtil, que é feita por alguém que vocês sabem quem é, que foi criada com carinho, dedicação e atenção aos detalhes, que é única, precisamente porque não foi feita em série, é algo que não tem preço.
e cada um de vocês saberá certamente a estima e carinho que têm por esse tipo de peça, que será impossível terem por uma coisa que vos custou meia dúzia de euros e foi feita sabe-se lá por quem.
por isso, da próxima vez que precisarem de comprar o que quer que seja, perguntem-se a si próprios: “Quem fez isto?…” e façam as vossas escolhas conscientes.
da próxima vez que quiserem comprar algo só porque sim, ou só porque é bonito, não têm de se sentir mal!, precisamos de coisas bonitas à nossa volta.
mas façam sempre a mesma pergunta:
“WHO MADE MY CLOTHES?”
amanhã celebramos no nosso país uma das mais bonitas das revoluções do séc.XX.
porque não começar já hoje uma nova revolução?…
vamos a isso :)
(to be continued)
Vamos a isso Rita!
Gostava de saber costurar por causa do que escreve, Quando os filhos eram pequenos ainda consegui fazer umas coisitas pelos moldes da Burda, mas depois não tinha mais tempo, na verdade era mais fácil comprar nos saldos e adaptar o que fosse preciso…
Olho sempre para as etiquetas, mas mesmo sendo made in Portugal, já cheguei à conclusão que não quer dizer que a manufactura seja sempre justa…
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