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em 2012, por esta altura, estava a começar a contagem decrescente para A viagem da minha vida: estava a tratar das burocracias necessárias e preparar a minha viagem à India.
este ano, 5 anos depois, as saudades da India são mais que muitas, a vontade de voltar assola-me todos os dias, e já comecei a dizer à família que tenho mesmo de lá voltar em breve.
enquanto isso não acontece, mato saudades.
na semana passada deitei mãos à obra a um projeto que já estava há demasiado tempo por acabar, e no fim de semana terminei-o. é uma lembrança da minha India, uma janela aberta para esse lugar mágico e único no mundo.
linho e saris de seda: são os materiais principais.
porquê linho e saris?… bem, os saris são “o” tecido por excelência da India. fazem parte do colorido das pessoas, pintam as ruas de mil cores, e ninguém consegue imaginar a India, sem uma míriade de cores e brilhantes saris.
o linho, porque gostei bastante da forma como jogava com o colorido e sedoso tecido dos saris. a rugosidade do linho contrasta de forma perfeita com a seda, o tom neutro do beje é o melhor de todos para sobressair as cores, sem as saturar demasiado.
juntamente com estes dois tecidos, é claro que há outro que grita India por todos os lados: o block print. block print é umas técnicas ancestrais de tingimento de tecidos, originária da India, e ainda hoje é a técnica mais usada, seja de forma artesanal (como tive a oportunidade de observar quando lá estive) seja de forma industrial, para tingir tecidos de algodão e seda.
estes, que usei para esta manta, vieram da Retrosaria, que por sua vez os trouxe da Merchant & Mills, que por sua vez os trouxe da India. comércio justo e com o mínimo de intermediários possíveis, como deve ser para manter de forma equilibrada e sustentável (económica e socialmente) a maior indústria da India: a a industria têxtil.
escolhi o castanho para a cercadura de todo o conjunto de half-square triangles porque quando a vi na loja parecia ter sido feita de propósito para esta peça. não me enganei.
para avivar o conjunto, e dar-lhe uma moldura colorida, escolhi um vermelho vivo para fazer o debrum, o mesmo que usei em alguns dos blocos que compõe a peça.
tive vários desafios e dificuldades para fazer esta peça, que parece tão simples, mas que tem mais horas de trabalho do que o habitual. não é fácil coser seda, e muito menos seda com linho, porque são dois materiais que “fogem” muito ao toque, que têm grande tendência para se desviarem, amachucarem ou ganharem vida própria. a dificuldade acresce se com eles quisermos fazer patchwork com formas mais complexas, em vez de juntar simples quadrados uns aos outros…
a solução foi fazer uma espécie de “foundation piecing”. digo espécie, porque esta peça não tem foundation (enchimento), está aplicada diretamente numa manta (indiana) de algodão texturado. mas o que fiz foi de certa forma “segurar” a costura de cada bloco half-square triangle, com um pesponto a toda a diagonal. por isso, todos os pespontos que vêm na peça foram feitos um a um, bloco a bloco e não de forma continua e uniforme como numa manta normal de patchwork.
para “segurar” todo o conjunto à parte de trás, optei por um pesponto muito simples, e numa cor mais neutra, quase invisível.
a forma imperfeita de cada half-square triangle é propositada. primeiro, porque seria muitíssimo difícil conseguir uma perfeição com este tipo de tecidos, e com as pequenas diferenças de milimetros que têm entre si, segundo, porque o patchwork tradicional indiano é tudo menos escravo da perfeição. aliás, é a na sua diversidade e pequenos detalhes que reside a autenticidade que lhe é característica.
há um pequeno bloco que não tem nada a ver com o resto, talvez já tenham reparado… é um pequeno triângulo de ganga.
o que é que está ali a fazer, porque é que o usei?… é um bocado dos calções de ganga que usei na minha viagem, e que já tinham sido desconstruídos para fazer outras coisas.
as fotografias, como sempre, não lhe fazem justiça. a minha mais recente peça “Incredible India” faz-me viajar para esse sítio único cada vez que olho para ela…
podem ainda ver outras das peças que já fiz com tecidos que trouxe da India aqui, aqui e aqui. se ficaram com curiosidade de ver fotografias da minha viagem, podem espreitar este e este post, ou o tumblr que fiz, um ano depois, em jeito de diário de viagem.